Algumas histórias tem uma origem tão pitoresca que a própria gênese merece ser contada. Com a erupção do Monte Tambora e bloqueio da luz solar pelas partículas de poeira, em 1816 o hemisfério norte ficou sem verão. Nesse clima hostil, quatro escritores (Percy Shelley, Mary Shelley, Lord Byron e John Polodori) ficaram confinados em um ambiente fechado lendo histórias de terror, e foi a partir de um desafio que Mary Shelley – na época, Mary Godwin – escreveu a obra Frankenstein, publicada em 1818.

Título: Frankenstein
Autora: Mary Shelley
Editora: Collector's Library
Páginas: 280 páginas
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Frankenstein, or, de Modern Prometheu (Frankenstein, ou, o Moderno Prometheu) é um romance epistolar em que Victor Frankenstein conta ao capitão Walton sobre sua infância, estudos de alquimia e as mais modernas ciências sociais, de modo que, envolvido com o estudo e fascinado com a possibilidade de gerar vida, abandona seus amigos e família em prol da sua criação, que acaba por ser rejeitada e repugnada devido a sua aparência monstruosa. Frankenstein fica gravemente enfermo e é cuidado por seu amigo Clerval nesse período, mas após a notícia do assassinato de seu irmão caçula, Frankenstein se sente terrivelmente culpado por ter criado o monstro, o que resulta em sua destruição física e moral, e na tentativa de ‘reparar o erro’.
Quando pensamos em Frankenstein como o monstro repugnante que está no imaginário popular, dificilmente refletimos que sua história vai além do confronto criador x criatura e modificação da natureza, pois abrange também temas como rejeição, solidão, injustiça e preconceito. Durante grande parte do livro, ouvimos Victor Frankenstein lamentar a existência da criatura – que nem nome tem -, rechaçamos sua aparência e a atrocidade cometida por ela, mas, quando lhe é dada a vez de falar, entendemos que a criatura é realmente uma ‘criação’: é um reflexo do modo com que a sociedade lhe tratou julgando-a um monstro por causa da sua aparência. Ora, não é difícil se tornar um monstro quando a vida inteira é assim tratado.

A história de Frankenstein – profunda e filosófica – é resultado de todas as características que compõe o romance gótico (mistério, melodrama, reflexões sobre o poder e criação) mescladas com o espírito de avanço científico que impregnava a sociedade da época, resultando em um dos primeiros exemplares da ficção científica. Mesmo que a palavra “monstro” seja constantemente associada ao sobrenatural e de fato, um clima de terror impregne a obra, a própria criação de Frankenstein é explicada cientificamente e também aborda as consequências do poder criativo nas mãos humanas. Da mesma forma que apresenta esses questionamentos, Frankenstein também disserta sobre a grandiosidade da Natureza, no momento em que um personagem mostra-se maravilhado com as paisagens naturais da Europa.
Se Frankenstein é um conto trágico, melancólico e intenso, grande expoente da literatura gótica e precursor da ficção científica, também é uma das obras literárias mais adaptadas para o cinema e outras mídias, o que confirma que a narrativa também tem grande força de entretenimento e sua história e reflexões permanecem atuais até hoje.
terça-feira, 3 de março de 2015